segunda-feira, 21 de março de 2011

A Televisão no Brasil e a guerra por audiência



No Brasil, a televisão deu seus primeiros passos em 1950, graças ao paraibano Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo. Sua ousadia e espírito empreendedor o levaram a criar a TV Tupi, primeira emissora de TV da América Latina. Com a criação, a TV precisava de número de telespectadores, daí, a grande sacada foi a utilização de programas de auditório, capazes de aumentar a audiência, o que não demorou muito para acontecer. Em 1956, o programa “O Céu é o Limite, apresentado por Aurélio Campos, alcançou 92% de Ibop. Era um programa, aparentemente, do tipo gincana de perguntas e respostas envolvendo equipes que disputavam seus conhecimentos. No início da década de 70 surge o programa do Chacrinha, o Abelardo Barbosa, grande mestre na arte de conduzir um programa de auditório, posteriormente muitos outros foram sendo criados ou adaptados.
Os programas de auditório exibidos na televisão brasileira, desde a criação, tinha um objetivo certo, atingir a grande camada da população, o público mais simples, que se tornou uma grande fatia da sociedade, que até hoje dá bons lucros aos anunciantes da “telinha animada”.
Entre tantos programas, do passado e do presente, vamos nos deter em comentar dois da atualidade, que utilizam o popular para ganhar audiência e brigam acirradamente por espaço e fazem a “alegria nas tardes de domingo”, são os de Gugu Liberato e Fausto Silva.
Os três principais canais de TV aberta do Brasil, Globo, SBT e Record, brigam para ver quem é mais detentora do “besteirol”. Na TV Globo é preciso muito bom humor para ouvir as piadas e vídeo cacetadas, sem graça, de Faustão e seu “domingão”, com letras minúsculas sim e entre aspas também, pois mais parece uma reprise das novelas e minisséries da emissora, em uma autopromoção dos seus atores e atrizes que, para piorar, até pouco tempo, comiam pizza, enquanto milhares de pessoas passam fome. Sem esquecer o que mais gostam de mostrar, a intimidade do galã, a cor preferida de sua cueca e a emoção da sua primeira noite de amor.
Gugu Liberato, antes SBT, resolveu pousar na Record com seu programa semanal, batendo firme para mostrar que pode assumir a ponta no índice do Ibop. Lutar pelo primeiro lugar não seria o problema, se não fosse as armas utilizadas ou “estratégias”. O sensacionalismo ultrapassa todos os limites, utilizam a fé, a “caridade”, a sensualidade e até as pegadinhas de mau gosto, tudo faz parte do arsenal na guerra pela conquista da audiência.
Tanto no Faustão quanto no Gugu, os cantores e bandas “preferidas” não podem faltar. As músicas são as mais variadas, desde o sertanejo até “pagode”. As bailarinas acompanham o ritmo, e as crianças, do outro lado da tela, vão aprendendo. Esses programas ajudam a aumentar o grau de alienação das pessoas a serviço de uma indústria cultural exacerbada, com pouco compromisso com a dignidade da pessoa humana e os problemas sociais da grande maioria dos telespectadores assíduos.
Enquanto os artistas são mostrados todos bem vestidos, o povão só é apresentado na mais vil de suas imagens, desdentados, maltrapilhos e nas suas péssimas condições de vida, para causarem risos, dor ou piedade, no intuito de prender o público utilizando a simplicidade e solidariedade, que é parte da característica do povo brasileiro. Não mostram, a não ser quando interessa, a riqueza da cultura popular, espalhada em cada esquina deste nosso país.
Os programas de auditório, do tipo que analisamos, brincam, na maioria das vezes, com a sensibilidade do povo e tudo é revertido em lucro, se assim não for não serve. O telespectador é estimulado a comprar, comprar, comprar... enriquecendo as emissoras e seus patrocinadores. Não é mera coincidência, que o apelido dado à televisão é de “circo eletrônico”, pois a ela vem se afirmando nos programas de auditório preparados com os melhores recursos da tecnologia, para manipular as pessoas sem que elas saiam de suas casas e, nos últimos anos, para piorar a situação vem os reality shows, mas esse é outro assunto para outra oportunidade.

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